Poemas aos Homens do nosso
Tempo
de Hilda
Hilst
Amada
vida, minha morte demora.
Dizer que
coisa ao homem,
Propor que
viagem? Reis, ministros
E todos
vós, políticos,
Que
palavra além de ouro e treva
Fica em
vossos ouvidos?
Além de
vossa RAPACIDADE
O que
sabeis
Da alma
dos homens?
Ouro,
conquista, lucro, logro
E os
nossos ossos
E o sangue
das gentes
E a vida
dos homens
Entre os
vossos dentes.
* * *
Lobos? São muitos.
Mas tu
podes ainda
A palavra
na língua
Aquietá-los.
Mortos? O mundo.
Mas podes
acordá-lo
Sortilégio
de vida
Na palavra
escrita.
Lúcidos?
São poucos.
Mas se
farão milhares
Se à
lucidez dos poucos
Te
juntares.
Raros? Teus preclaros amigos.
E tu
mesmo, raro.
Se nas
coisas que digo
Acreditares.
* * *
Bombas limpas, disseram? E tu sorris
E eu
também. E já nos vemos mortos
Um verniz
sobre o corpo, limpos, estáticos,
Mais
mortos do que limpos, exato
Nosso
corpo de vidro, rígido
À mercê
dos teus atos, homem político.
Bombas
limpas sobre a carne antiga.
Vitral
esplendente e agudo sobre a tarde.
E nós na
tarde repensamos mudos
A limpeza
fatal sobre nossas cabeças
E tua
sábia eloqüência, homens-hienas
Dirigentes do mundo.
* * *
Ao teu encontro, Homem do meu tempo,
E à espera
de que tu prevaleças
À rosácea
de fogo, ao ódio, às guerras,
Te
cantarei infinitamente à espera de que um dia te conheças
E convides
o poeta e a todos esses amantes da palavra, e os outros,
Alquimistas,
a se sentarem contigo à tua mesa.
As coisas
serão simples e redondas, justas. Te cantarei
Minha
própria rudeza e o difícil de antes,
Aparências,
o amor dilacerado dos homens
Meu
próprio amor que é o teu
O mistério
dos rios, da terra, da semente.
Te
cantarei Aquele que me fez poeta e que me prometeu
Compaixão e ternura e paz na Terra
Se ainda
encontrasse em ti, o que te deu.
* * *
Ávidos de ter, homens e mulheres caminham pelas ruas.
As amigas
sonâmbulas, invadidas de um novo a mais querer,
Se
debruçam banais, sobre as vitrines curvas.
Uma
pergunta brusca, enquanto tu caminhas pelas ruas.
Te
pergunto: E a entranha?
De ti
mesma, de um poder que te foi dado
Alguma
coisa clara se fez? Ou porque tudo se perdeu
É que
procuras nas vitrines curvas, tu mesma,
Possuída
de sonho, tu mesma infinita, maga,
Tua
aventura de ser, tão esquecida?
Por que
não tentas esse poço de dentro
O
incomensurável, um passeio veemente pela vida?
Teu outro rosto. Único. Primeiro. E encantada
De ter teu
rosto verdadeiro, desejarias nada.
* * *
Enquanto
faço o verso, tu decerto vives.
Trabalhas
tua riqueza, e eu trabalho o sangue.
Dirás que
sangue é o não teres teu ouro
E o poeta
te diz: compra o teu tempo.
Contempla o teu viver que corre, escuta
O teu ouro
de dentro. É outro o amarelo que te falo.
Enquanto
faço o verso, tu que não me lês
Sorris, se
do meu verso ardente alguém te fala.
O ser
poeta te sabe a ornamento, desconversas:
"Meu
precioso tempo não pode ser perdido com os poetas".
Irmão do meu
momento: quando eu morrer
Uma coisa
infinita também morre. É difícil dizê-lo:
MORRE O
AMOR DE UM POETA.
E isso é
tanto, que o teu ouro não compra,
E tão
raro, que o mínimo pedaço, de tão vasto
Não cabe
no meu canto.
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