Parte 5 - Vê-se nesse final de texto que a poetisa coloca em perspectiva o SER em face do TER (e suas entranhas - seu íntimo), pois as pessoas ficam vislumbradas com o material (as coisas do mundo, as falsas belezas, as vitrines das lojas). O homem se banalizou. A vitrine não é curva, mas os homens e mulheres que as olha, encurvados, submissos à beleza passageira. Falta-lhes luz, porque são incapazes de mergulhar fundo no poço do ser, no seu interior, descobrir-se e saber que após isso nada mais desejaria, estaria completa em si mesma. A poetisa trabalha a essência (sangue), enquanto os homens do mundo trabalham suas riquezas materiais, esquecendo de viver. Viver a vida é o verdadeiro ouro. os homens ignoram os verso, a sabedoria de viver não tem preço e o ouro não pode comprá-lo. O poeta é um homem rico - de outro tipo de ouro - o qual levará consigo e quem não o leu ou ouviu terá perdido tudo e morrerá pobre!
Ávidos de ter, homens e mulheres caminham pelas ruas.
As amigas sonâmbulas, invadidas de um novo a mais querer,
Se debruçam banais, sobre as vitrines curvas.
Uma pergunta brusca, enquanto tu caminhas pelas ruas.
Te pergunto: E a entranha?
De ti mesma, de um poder que te foi dado
Alguma coisa clara se fez? Ou porque tudo se perdeu
É que procuras nas vitrines curvas, tu mesma,
Possuída de sonho, tu mesma infinita, maga,
Tua aventura de ser, tão esquecida?
Por que não tentas esse poço de dentro
O incomensurável, um passeio veemente pela vida?
Teu outro rosto. Único. Primeiro. E encantada
De ter teu rosto verdadeiro, desejarias nada.
* * *
Enquanto faço o verso, tu decerto vives.
Trabalhas tua riqueza, e eu trabalho o sangue.
Dirás que sangue é o não teres teu ouro
E o poeta te diz: compra o teu tempo.
Contempla o teu viver que corre, escuta
O teu ouro de dentro. É outro o amarelo que te falo.
Enquanto faço o verso, tu que não me lês
Sorris, se do meu verso ardente alguém te fala.
O ser poeta te sabe a ornamento, desconversas:
"Meu precioso tempo não pode ser perdido com os poetas".
Irmão do meu momento: quando eu morrer
Uma coisa infinita também morre. É difícil dizê-lo:
MORRE O AMOR DE UM POETA.
E isso é tanto, que o teu ouro não compra,
E tão raro, que o mínimo pedaço, de tão vasto
Não cabe no meu canto.
P.s. ficam reservados os direitos autorais do professor quanto à análise. Sendo proibida sua publicação fora do contexto escolar, podendo alunos e professores fazê-lo, para fins educacionais em sala.
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